17 julho 2009
[salão brazil, coimbra]
Corria o ano de 2006, quando Jens Lekman colocou à venda através do seu website alguns dos seus instrumentos mais queridos. De imediato, a imprensa antecipou a sua desistência e muitos temeram pelo fim do seu curto percurso. Porém, meses mais tarde, o regresso ao estúdio veio desmentir aquelas notícias, tendo então o autor escandinavo explicado o motivo de tal acto: com o produto da venda comprou uma passagem de avião para San Francisco, indo ao encontro de uma menina por quem se tinha enamorado dias antes. (*)
O relato deste episódio serviria para uma qualquer faixa de Jens Lekman. Do seu registo simultaneamente melancólico e tonto seríamos resgatados por uma secção de metais que nos conduziria através de um refrão contagiante (e por vezes dançável). Pontuada por elementos electrónicos, essa mesma faixa comportaria samples de um qualquer vinyl adquirido num mercado de Joanesburgo ou da cópia de Graceland que Jens escutou vezes sem conta ao longo da adolescência. A sua edição passaria então à margem de muitos, num mero EP de quatro faixas, num tributo a Arthur Russell ou Jonathan Richman, distribuída à porta de um dos seus cada vez mais raros concertos.
Jens Lekman é um músico especial. Figura frágil e naïf, ri-se de si próprio e da sua má fortuna, da forma atrapalhada como lida com os afectos e dos gestos daqueles a quem endereça as suas composições. Por vezes, causa-nos até um certo embaraço, de cada vez que escutamos um dos seus poemas. Ora faz-se acompanhar em palco de um mero ukelele como traz consigo uma orquestra formada por seis louras escandinavas, e ainda assim, qualquer que seja a formação, nunca a sua relação com o público se torna distante. Sempre foi cúmplice e próxima... paciente até nos e-mails que faz questão de responder pessoalmente.
Após a edição de Night Falls Over Kortedalla, em 2007, raras têm sido as ocasiões em que pisou os palcos. Revelando-se avesso a sucessivos meses de estrada, com a pressão de encenar algo celebratório todas as noites, preferiu afastar-se e rascunhar o seu próprio roteiro. Nos últimos meses passou por Seul, Sidney e Los Angeles. Encontramo-lo ao longo das próximas semanas em São Paulo, Coritiba e Buenos Aires. Longe do circuito dos festivais e das grandes salas, no presente Jens pretende apenas viajar, levando as suas composições a novas paragens, fazendo desses ocasionais concertos noites de memorável celebração.
No Salão Brasil, em Coimbra e, dia 18 de Julho, no Maus Hábitos, no Porto, Jens Lekman apresentará pela primeira vez as suas composições ao público português, em dois concertos que, segundo o próprio, serão efervescentes e dançáveis.
A efectuar a primeira parte de ambos os espectáculos teremos Pikelet, nome que esconde a australiana Evelyn Morris. Depois de colaborar com os Baseball e os True Radical Miracle, lançou-se numa carreira a solo onde a sua voz doce e hipnótica acompanha uma panóplia de instrumentos que leva para palco e que sobrepõe com a ajuda de uma loop machine.