Festival Indie Songs Don't Lie 2010

21 e 22 de Outubro de 2010 
[museu nacional de machado de castro, coimbra]
 
Quinta-feira (21h30)
Heather Woods Broderick 
+ Nils Frahm


A afirmação de Heather Woods Broderick como um dos nomes emergentes no espectro indie norte-americano encontra-se intimamente ligada ao percurso do seu irmão. Foi pela mão de Peter Broderick que, em 2006, a jovem violoncelista integrou o projecto Horse Feathers. Um ano mais tarde, acompanharia Peter na sua aventura escandinava, passando a ...fazer parte das fileiras dos Efterklang. Ao longo de todo este percurso, assinou as suas próprias composições, portadoras de uma rara beleza melódica e pontuadas pela sua voz envolvente. Estas viriam a ser reunidas em From the ground, primeiro longa-duração de Heather, álbum que conta com a participação de alguns dos músicos mais reconhecidos de Portland. De resto, é esta assumida opção dos Broderick em colaborar com inúmeros músicos que não só enriquece o seu percurso, como permite encontros como aquele que trará o reputado pianista germânico Nils Frahm ao Museu Nacional Machado de Castro. Assíduo colaborador de Peter Broderick, não só acompanhará a compositora norte-americana, como apresentará as suas próprias composições, com destaque para The bells, uma recentemente editada colecção de improvisos ao piano.


Sexta-feira (22h00) 
Gareth Dickson


O nome do escocês Gareth Dickson permanece desconhecido do grande público, e no entanto, este instrumentista tem sido requisitado, ao longo do último ano, por figuras tão ilustres como a argentina Juana Molina ou a britânica Vashti Bunyan. O seu virtuosismo na guitarra e a forma como as suas composições se entrelaçam em ténues fios sobrepostos, projecta cada vez mais o jovem escocês para a primeira divisão da chamada brit folk. Referências como Nick Drake ou Bert Jansch não são estranhos ao imaginário de Dickson, pairando como fantasmas ao longo das suas actuações. No entanto, a sua familiaridade com o trabalho de Molina, e muito particularmente com o processo interpretativo da autora argentina (na medida em que utiliza loops de voz e guitarra), distancia hoje o escocês da figura de um mero singer songwriter. Com a sua irrepreensível técnica convive hoje uma dimensão experimental, que não encontramos na maioria dos seus pares.

Dana Falconberry + Matt Bauer

18 setembro
[oficina municipal do teatro, coimbra]


Desde há alguns anos a esta parte que Dana Falconberry reside na cidade texana de Austin, um dos pontos de maior efervescência no roteiro indie norte-americano, pelo que não é de estranhar que cedo tivesse dividido o seu tempo entre os estudos e a composição, actuando em pequenas salas e captando progressivamente a atenção do público de Austin. Red Hunter, fundador do projecto Peter & the Wolf, interessou-se pela voz de Dana, que a partir de 2006 passou a integrar o referido projecto.

No entanto, o seu percurso a solo há muito que se encontrava traçado, e nesse mesmo ano editou Paper Sailboat, um EP que reunia seis das suas composições, todas elas portadoras de uma inegável autenticidade folk, traduzindo-se num registo de storyteller, evocativo de um passado distante. Oh Skies Of Grey, o seu primeiro longa-duração, ancorado ao território folk, contemplava ainda assim a presença do piano e da bateria, elementos que vieram adornar a voz da autora, esta sim, ainda cativa de um prato de vinyl poeirento, ecoando pelo velho soalho de um quarto de hotel.

Pela primeira vez na Europa, Dana Falconberry transporta consigo o legado do bluegrass e da folk do midwest norte-americano, fazendo-se acompanhar nesta jornada por Matt Bauer, singer songwriter nova-iorquino que percorre trilhos semelhantes aos da compositora texana. Tendo por parceiros respectivamente a guitarra e o banjo, fica a promessa de uma noite de estórias e de cumplicidade. 

Emily Jane White

08 julho
[museu nacional de machado de castro, coimbra]


Ao percorrermos Victorian America pressentimos estar perante o esboço de um território esquecido, cujas fronteiras se perdem no passado, por entre mitos e narrativas distantes. Atravessamos a sua imensidão, conduzidos pela voz de Emily Jane White, enquanto esta convoca a tradição e a solidão da folk norte-americana. O trilho pelo qual seguimos torna-se cada vez mais definido e reconhecível à medida que avançamos, não sendo já um estreito caminho como o de Dark Undercoat, o seu primeiro LP, editado em 2007.

Um assumido sentimento de perda e de tristeza, que aquela autora apontava como exclusivo objecto das suas composições, deu lugar ao longo dos últimos anos a um genuíno interesse pelo poder da narrativa e do storytelling. As afinidades com autores da sua geração como Cat Power, Alela Diane ou Hope Sandoval permanecem evidentes; porém, à medida que as composições de Emily Jane White denunciam uma crescente amplitude, das mesmas emerge uma também progressiva preocupação com a escrita, tentando encontrar um registo que a liberte e a distancie dos seus pares.

O trilho de Victorian America leva-nos a uma encruzilhada. Se por um lado a singer songwriter californiana recusa uma ruptura face às suas primeiras composições, as quais a imprensa catalogou de dark soul, sente-se por outro lado o pulsar do slowcore e do indie rock, dos quais convoca elementos que enriquecem e estendem cada vez mais as fronteiras daquele ainda indefinido e vasto território. 

The Ruby Suns

17 junho
[oficina municipal do teatro, coimbra]


Há cerca de um ano atrás, um público entusiasta despediu-se dos The Ruby Suns numa pequena sala da invicta, ainda aturdido e sacudido pelos momentos finais de Palmitos Park, celebrados num ritmo frenético e contagiante. Na altura, após uma longa viagem desde Auckland e três datas consecutivas no nosso país, ficou de um exausto Ryan McPhun a promessa de uma segunda passagem por Portugal.

Entretanto surgiu Fight Softly, o perfeito motivo para que a Lugar Comum endereçasse um novo convite a Ryan McPhun. Fight Softly afasta-se progressivamente da génese do projecto neo-zelandês. Não despreza o legado tropicalista de Sea Lion, seu antecessor, mas acrescenta-lhe uma inclinação óbvia pelas texturas electrónicas e pela utilização de samples. A componente dançável e celebratória persiste, transversal a todos os sons que os The Ruby Suns comportam, mas desta vez Ryan McPhun surge-nos mais próximo de Panda Bear que de Ezra Koenig.
 
A Lugar Comum antecipará o Verão na companhia de Ryan McPhun, partindo do exacto ponto em aquele nos deixou há um ano: em efervescente celebração ao som dos primeiros esboços de Fight Softly. 

Taxi Taxi!

08 abril
[oficina municipal do teatro, coimbra]


O primeiro trabalho do projecto escandinavo Taxi Taxi! não é certamente revelador do seu bilhete de identidade. Nele encontramos composições envelhecidas pelo decurso de sucessivos Outonos, que parecem ter subsistido ao passar dos tempos, comportando mesmo amargurados traços de longas jornadas. Já a escrita surge-nos envolta num manto de sobriedade e maturidade, pontuada muitas vezes por uma agastada melancolia. E, no entanto, ...as suas autoras, Johanna e Miriam Eriksson Berhan, têm apenas 18 anos de idade.

Nascidas em Estocolmo, gravaram as suas primeiras faixas quando ainda tinham 15 anos, lançando as mesmas no myspace e assumindo a assinatura Taxi Taxi! Seguiram-se as primeiras audições, os primeiros artigos em blogs, e um crescente culto em torno das suas composições que lhes rendeu a curto prazo um significativo airplay em diversas rádios suecas. De seguida, a imprensa multiplicou as referências ao projecto, surgindo os primeiros concertos que acabariam por as levar a uma actuação no Festival de Roskilde, na Dinamarca.

Após dois embrionários EP's, a etiqueta Rumraket (fundada por elementos do conhecido projecto Efterklang) editou em 2009 o álbum Still Standing at Your Back Door, produzido por Johan Berthling (Tape). Para além de consolidar a posição das Taxi Taxi! como uma das maiores promessas da indie folk actual, este longa-duração tem a particularidade de antecipar um pouco do que podemos esperar de Miriam e Johanna em concerto, visto terem assumido elas mesmo, à semelhança do que fazem em palco, a gravação de todos os instrumentos utilizados em estúdio.

Pela primeira vez em Portugal, a convite da Lugar Comum, as Taxi Taxi! actuarão em quatro datas, ao longo dos primeiros dias de Abril. 

Laetitia Sadier

19 março
[oficina municipal do teatro, coimbra]


A voz de Laetitia Sadier encontra-se intimamente ligada ao projecto Stereolab. Será um exercício difícil, senão impossível, o de imaginarmos o percurso do colectivo franco-britânico sem o registo vocal da sua principal letrista. Considerados por muitos como imprescindíveis, enquanto referência de enorme amplitude criativa nas últimas duas décadas, os Stereolab deixaram um extenso legado que se alonga desde as fronteiras da electrónica, do jazz, da bossanova e mesmo do indie rock, numa equação sempre difícil de se resolver.

Após um longuíssimo percurso, do qual constam colaborações pontuais com nomes tão relevantes como os Blur ou os High Llamas, Laetitia Sadier chega a 2010 apostada em prosseguir uma carreira a solo, pontuada por concertos raros e intimistas, tendo até à data se apresentado ocasionalmente em palco na companhia de Bradford Cox, com o qual assinou a composição Quick Canal, uma das mais belas faixas de 2009.

A convite da Lugar Comum, Laetitia viajará até ao nosso país para nos apresentar algumas das suas composições; oportunidade única para escutar um nome maior. 

Nancy Elizabeth

25 fevereiro
[museu nacional de machado de castro, coimbra]


Depois de se estrear com Battle & Victory, a inglesa Nancy Elizabeth apresenta Wrought Iron, um disco magnífico que cristaliza a britânica como um dos nomes mais sólidos do novo folk.

Em Wrought Iron, Elizabeth explora o silêncio como um elemento activo e sempre presente nas suas canções. Gravado num estúdio em Gales, as melodias do disco foram crescendo e estruturando-se em locais improváveis como numa casa de uma familiar nas Ilhas Faroé, na província de Aragão em Espanha ou no Lake District Inglês. Elizabeth assume-se em Wrought Iron como uma talentosa multi-instrumentista, capaz de, com o piano, guitarra ou percussão, oferecer belíssimos temas folk em câmara lenta, onde a simplicidade dos arranjos e a maravilhosa tonalidade da sua voz avançam directos para os nossos sentidos.

Coimbra terá a oportunidade imperdível de confirmar in loco uma das cantautoras mais interessantes da música que costuma morar na margem certa dos gostos alternativos.

Albin de la Simone

05 fevereiro 2010
[teatro académico de gil vicente, coimbra]


Ao longo da última década, Albin de la Simone tornou-se seguramente numa das maiores referências da chamada chanson française. Músico de formação clássica, percorreu na adolescência os territórios do jazz, procurando um progressivo aperfeiçoamento da sua técnica ao piano. Este trajecto levou-o aos estúdios de gravação de históricos como Alain Souchon, Arthur H ou Alain Chamfort, inicialmente como músico de sessão, e mais tarde acumulando as funções de produtor.

No entanto, não se compadecendo com o anonimato, Albin inicia-se na composição, e em 2003 grava o seu primeira longa-duração, trabalho homónimo recebido com entusiasmo pela imprensa, que nele encontra traços de uma escrita cuidada na forma minimalista das suas composições, destacando-se a faixa Elle Aime, gravada na companhia de Leslie Feist, como que uma matriz do seu imaginário.


Segue-se um segundo álbum, em 2005, intitulado Je Vais Changer. Ironia de um músico que se serviu desse segundo passo para consolidar as suas ideias e para se afirmar entre os seus pares. É com este mesmo álbum que chega o reconhecimento do público francófono, multiplicando-se os concertos a solo, ou na companhia de alguns dos seus contemporâneos, como Vincent Delerm, Jeanne Cherhal, Benjamin Biolay ou Camille